segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Encerramento em poesia

Começa um novo ano letivo. Se não da forma como o esperávamos, amanhece pelo menos em luta pela educação no Paraná. 

Alguns de nós, por outro lado, começam a deixar (pelo menos formalmente) esse lugar.

Muitos de nós concluíram a graduação. Não daremos, é claro, adeus. Continuaremos participando. Porém, não mais como alunos da universidade. Mas, agora egressos, estaremos presentes de outra forma, em outra medida, nos limites em que pudermos contribuir com todas lutas que permanecem em processo.

Foi na colação de grau de uma das turmas do Curso de Direito que alguns de nós puderam vocalizar alguns sentimentos formados e amadurecidos junto ao Lutas. Alguns participantes do nosso grupo ficaram encarregados de fazer um discurso em homenagem a professores e funcionários. Éramos nós três: Guilherme, Gabriel, Rodolfo.

Nossos agradecimentos vão também a esse grupo, sem dúvidas o berço maior de toda a transformação pela qual pudemos passar durante o curso.

Segue, como registro, o vídeo e o texto integral de nossa homenagem:



Boa noite mães, pais, maridos, esposas, demais familiares e demais presentes.

Professora Luciana.

A turma de formandos João Pedro Junior agradece a sua presença esta noite, hoje como nossa paraninfa e representante do corpo docente do Curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina. Você foi escolhida para estar aqui, como homenageada, pelo carinho e afinidade que a nossa turma sente por você. Aliás, hoje a comemoração não é apenas dos formandos. Lá no Moringão, passamos a saber que dia 20 de fevereiro, hoje, seria também o seu aniversário. Gostaríamos de lhe desejar, portanto, que esse seja em sua vida um ano cheio de conquistas e felicidades. E também, sem falsa modéstia, que você encontre pela frente uma turma tão boa como a nossa.

Vera. Verinha.

Hoje você está aqui representando todos os funcionários da UEL, cujo trabalho diário, o esforço, a paciência e a seriedade permitiram a esta turma concluir o Curso de Direito. É uma grande alegria pessoal, de todos nós, que você esteja aqui esta noite, fazendo parte dessa festa, e trazendo para ela esse seu sorriso, que tornava mais belas todas as manhãs de estágio no EAAJ.

Caras homenageadas.

Não é tarefa fácil nem simples prestar homenagem a vocês. De fato, eu acho que não conseguiria fazer isso sozinho.  
Foi por isso que, algum dia desses, em conversa de bar, eu pedi a ajuda desses amigos. Contudo, eles me impuseram uma pequena condição.



Fugiríamos do discurso chato, cansado, enfadonho
Vamos fantasiar essa homenagem
Adorná-la, embebedá-la
Falar por imagens e sonhos

Pois a prosa é traiçoeira, cansa, enfastia
A trocaríamos por esse algo diferente
Plural, simples e com rima
Alguns versos declamados
Homenageando as homenageadas
A declamação de uma derradeira poesia

Começaríamos citando Belchior
Que dizia algo sobre o passado
Seria ele como um antigo vestuário, comido, apertado
Assim a graduação
Que há tão pouco começara
Vai ficando para trás
Já se faz passado
Velha roupa colorida, apertada, antiquada
Que não nos serve mais

Aliás,
Ninguém hoje é o mesmo
De cinco ou seis anos atrás
Daqui, saímos formados
A formatura em que nos formamos
Sobretudo encerra
Em uma singular passagem,
Uma fresta, uma festa
Um processo do qual saímos transformados

De fato.
Não há um de nós
Que não tenha sido transformado

Eis, meus caros,
Logo ali sentados
Os principais culpados
Professores e funcionários.
Acusamos vocês, caras homenageadas,
Nesse juízo, definitivamente culpadas
Estiveram conosco
Durante toda caminhada
E agora vejam bem
Em baixo dessa beca
Escondemos nossas asas

Seguindo o rito esperado
Não poupamos nossas becas.
Essa roupa que vestimos
Tão bela, marca o fim de toda a espera

O carnaval nem direito se encerrou
Ainda de ressaca d’outro dia
Permanecemos vestindo fantasia
Fantasiando agora quem sabe
Um tradicional retrato com a família

Mas me desculpem
Demais presentes
Esse troço, demasiado quente,
Poderia logo ser tirado
Se já não é quase automático,
Faz-se já desnecessário
Não nos alegra enxergar no espelho
Nossos corpos em um mero traje preto
Mas sim ver em nossa frente
O rosto amado de cada presente

Por outro lado,
Pensemos bem
Com nossas becas
Não estamos assim tão antiquados
É melhor mesmo não as tirar
O preto é a cor de um triste luto
Pela educação em luta
Que se assaltou no Paraná
  
Desculpem pelo assunto,
A luta ocupa também este lugar
Sempre solidários aos nossos professores,
Permanecemos orgulhosos
Muitos permanecem a nos ensinar,
Ainda nesses dias,
Nos mostrando boas formas de lutar

Lutaremos, caras homenageadas,
Se preciso ao seu lado
Se não somos mais alunos,
Permanecemos aliados
Como poderia afinal
Ser de qualquer forma diferente
Vocês, professores e funcionários,
Construíram com seu trabalho
O lugar que permitiu
O nosso caminhar

E agora nós, já formados,
Com os pés ainda vermelhos
Do chão desta cidade
Sentimos, sim, o corpo prosseguir
Uma parte, porém, resistir
Enchendo-se os olhos
Da mais fina saudade
Essa fração de nós permanece
Teimosa, em simbiose
Sempre parte da universidade

Era Milton quem dizia
Triste se faz a travessia
Vamos seguindo pela vida
Chegando deste outro lado
O sonho que se sonhava
Deixamos de sonhá-lo
Como diz a música
Podemos, finalmente, agora dizer
“Hoje faço com meu braço o meu viver”

Por termos agora nos formado
Já fomos ficando acostumados
A receber parabéns
De nossos parentes, tios e tias
“Quem diria”,
Cansamos de ouvir,
“Temos agora um advogado na família”.
Mas, desculpem pelo mau jeito,
É que o Curso de Direito
Não nos formou apenas para advocacia.

Pois talvez
O que mais sentiremos falta
Serão os corredores das salas de aula
Ou olhar nos olhos de um funcionário
Conversar
Dizer muito obrigado

Não foi uma só vez
Que sem querer
Em uma dessas conversas tímidas
Conhecemos novos caminhos de vida

Professores e funcionários,
Trabalhadores de nossa universidade
Conhecê-los foi lição das mais belas.
Esqueçamos os códigos, cadernos e vaidades
Não houve aprendizado que nos valha
Sem conhecê-los, como pessoas de verdade

Não seria outro
O principal motivo
Pelo qual lhes devemos agradecer
Agora nos resta caminhar novos caminhos
Findos os anos
Em que caminhamos com vocês

Não podemos falar o nome de todos
Entre professores e funcionários
Seriam muitos
E sinceramente
Alguns que conhecemos
Não mereceriam ser citados

Nossa homenagem, genérica,
Vale, sim, para quem transformou nossas vidas
Nos ensinaram a sonhar
Nos prepararam para conquistas

Lembramos, porém,
Um Paulo Freire que já dizia
Ninguém pode educar o outro
Sem uma contrapartida:
Aprender com seu educando.
E transformar-se ensinando
Se o ato de educação é dialético
Todos aprendendo com o lado reverso 

É nosso desejo
Que, findo esse processo,
Saindo dele transformados,
Possamos ter-lhes renovado
O desejo pelo saber e pelo trabalho.

Gostaríamos, professora Luciana,
Que levasse aos departamentos,
A todo o corpo docente que nesta noite representa,
Nossas saudações, agradecimentos

E para não dizer adeus
Encerre-lhes uma saudação mais leve
Diga que a turma João Pedro Junior
Mandou-lhes um esperançoso “até breve”.

A Verinha, por sua vez,
Já em carinhoso diminutivo chamada,
Pedimos que não se esqueça
Que por nossa turma
Sempre será lembrada
Será, sempre, inesquecível homenageada

Representando centenas de servidores,
Técnicos, faxineiros, zeladores,
Todos os tipos de trabalhadores.
Conhecemos poucos dessa gente toda,
Mas qual trabalho que se faz
Sem a classe trabalhadora?

Obrigado novamente,
Por ter-nos apoiado
Se saímos transformados
A todos funcionários
Saímos também eternamente gratos

Mais pessoalmente,
Se não é muita ousadia,
Pedimos:
Não perca nunca sua bela simpatia
Assim como o nosso dia a dia
Agradecemos
Por tornar a festa,
Sem dúvidas, mais bonita



Caras homenageadas,

Leminski
O nosso velho poeta paranense,
Em sua verdadeira poesia
Ao contrário de nós,
Em poucas palavras tudo resumia

Citaremos por derradeiro,
Essa estrofe que simboliza
Como homenagem vivida
Os nossos sinceros agradecimentos
Por todos os anos passados
Por nos conhecerem
Por encerrarmos juntos transformados

“Não fosse isso
E era menos
Não fosse tanto
E era quase”

“Não fosse isso
E era menos
Não fosse tanto
E era quase”