quarta-feira, 1 de maio de 2013

Por que o Dia do Trabalhador não deve ser uma data comemorativa


Por que o Dia do Trabalhador não deve ser uma data comemorativa

Neste dia primeiro de maio, em que respiramos aliviados por ser feriado em plena quarta-feira, em que pudemos desligar o despertador e acordar mais tarde, teremos um almoço tranquilo com a família ou grupos de amigos, conversaremos, riremos, beberemos e saudaremos os trabalhadores... neste dia existe a ideia de comemorar o Dia do Trabalhador. 
A história, não muito conhecida sobre a origem do Dia do Trabalho, revela que a data de hoje, de longe, não deveria ser nada comemorativa. 
Imaginem a cena: lá pelos anos 1880, no dia primeiro de maio, trabalhadores sujeitos a uma jornada de trabalho de 16 horas começam uma greve  nas ruas de Chicago pela redução da jornada. No dia 03, há conflito com policiais e alguns trabalhadores morrem. No dia 04, uma bomba estoura entre os policiais posicionados em volta da manifestação, um deles morre no momento. Imediatamente tiros são disparados contra a multidão, desespero, dor, angústia, impotência, subordinação, dezenas de feridos e onze morrem (funcionários do Estado matando trabalhadores e vice-versa, a velha história de pobres matando pobres sob ordens dos ricos). A polícia identifica e prende os oito organizadores da manifestação, conhecidos militantes anarquistas, que acabam sendo incriminados pelo lançamento da bomba. Mesmo sem haver provas que os ligassem ao lançamento da bomba, são condenados. Quatro são executados por enforcamento, um comete suicídio e, devido à grande pressão popular, os outros três posteriormente têm a prisão revogada, quando o governador (só um pouco intepestivamente!) concluiu que todos os oito eram inocentes.
Anos depois, a Internacional Socialista decide que, anualmente, seriam organizadas manifestações no dia primeiro de maio pela redução da jornada de trabalho, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. No primeiro de maio de 1891, em uma manifestação, dez trabalhadores morrem na França em confronto com a polícia. O novo drama leva a  Internacional Socialista a adotar a data como dia internacional de reivindicações de condições laborais.
No Brasil, até a década de 30, o primeiro de maio costumava representar um momento de crítica e revolta contra o sistema sócio-econômico, com manifestações organizadas por grupos anarquistas e socialistas. A partir do governo Vargas, o Estado começou a se apropriar do simbolismo da data em favor de sua propaganda trabalhista. Piquetes e passeatas deram lugar a desfiles e festas populares promovidas pelo Estado. A data que representava o enfrentamento entre os trabalhadores e a estrutura capitalista, com sutis manobras ideológicas, tornou-se um momento em que o empregado dá as mãos ao empregador e ao Estado, comemorando juntos algo que está violentamente ocultando a expropriação de sua mais-valia.
O Dia do Trabalhador perdeu o simbolismo original, servindo a essa estranha aliança em que a face ideológica do discurso do direito consegue dar-lhe eficácia, tornar "legítima" a dominação prescrita pelo Estado, beneficiando a classe burguesa e atingindo a estagnação das lutas trabalhistas.
O Dia do Trabalhador não deve ser uma data comemorativa, mas um momento de crítica, de reflexão, de libertação, de movimentação dos trabalhadores contra o poder que os domina. Não deve ser o dia em que se diz ao colega parabéns para nós, os trabalhadores!, pois isso corresponde ao absurdo de ufanar-se da condição de indivíduo dominado e serviente do capital. O resgate histórico mostra as origens do simbolismo do Dia do Trabalhador e, posteriormente, a adulteração de seu espírito de luta ao atual espírito festivo. Por que comemorar? Tudo faz parte de uma grande ficção normativa, que permite a continuação do nosso modelo político-econômico. Comemorar é acreditar nessa novela contada pelas leis, é fazer parte desse roteiro deôntico fantasioso, é ser marionete dessa história mal contada. 
Tomara que possamos comemorar o Dia do Trabalhador daqui a alguns anos ou décadas, mas com motivos verdadeiros para isso. Enquanto houver dominação, exploração e opressão contra os trabalhadores, não poderemos celebrar este dia de forma coerente com a realidade. Em homenagem às origens das reivindicações trabalhistas, o primeiro de maio que queremos, mais do que tudo, e assim como todos os outros dias do ano, é ser um dia de lutas, um momento para desvelar o que está oculto e para conquistar algo mais belo. 

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