Sinto-me no dever de compartilhar o sensacional poema escrito pelo professor Cláudio Ladeira, por ocasião das reivindicações de aumento dos vencimentos da magistratura, em homenagem à aposentadoria do ministro poeta Ayres Britto, do STF.
JUSPOEMINHA DA REMUNERAÇÃO.
Escutas o trovão em meu bucho?
E acreditas que vivo em meio ao luxo?
Minha barriga é vazia, por isso a lamentação:
Setecentos reais é pouco, como auxílio-alimentação!
A magistratura hoje sofre com a desconsideração
D’uma sociedade que, burra, não demonstra compaixão!
Cento e dez mil euros anuais é esmola, seu bobalhão.
E eu ainda nem mencionei o auxílio-habitação!
Ora, fiz concurso para ter a vida que eu sempre quis,
Mas com esse miserê, como viverei em Miami ou Paris?!
Com “auxílios”, “diárias” e “benefícios” até se junta mais uns trocados,
Mas nada que alivie nossos fardos.
Entenda de uma vez, ó povinho bagaceiro,
Que sem o aumento venderemos chiclete em sinaleiro!
Quanto à nossa labuta, para pintar tal sofrimento faltaria tinta
Pois NUNCA desfrutamos do regime de “terça, quarta e quinta”.
É verdade que trabalhamos em palacetes com ar-condicionado,
Mas superiores que somos, o único local adequado...
seria o Olimpo Iluminado!
E isso que, ao redor de nossos prédios, faltam o fosso com crocodilo,
As torres, as muralhas e o estilo
De um verdadeiro palácio preparado
Para sediar um grão-ducado.
Sejamos, pois, agentes da transformação social:
Tornando a jurisdição constitucional
Uma verdadeira geleia geral
Em meio à maior crise econômica mundial
E por meio de liminar judicial
Arranquemos do STF mais um aumento real
Dos nossos vencimentos corrigidos pela inflação inercial.
Por Cláudio Ladeira, professor adjunto da UNB